terça-feira, 5 de junho de 2018

Menino ou menina?

em terça-feira, 5 de junho de 2018

1 comentário
Meninos tem pênis e meninas tem vagina! Certa vez minha filha chega em casa com essa frase declarando-a aos quatro ventos, com apenas seus quatro anos de idade. Verdade: ela havia acabado de receber a informação na escola! Em casa ela conhecia por outros nomes...

Qual não era minha admiração então, ao ouvir os pacientes falando: doutora, eu vim confirmar o sexo de meu bebê, o outro doutor deu 80 % - 90 % - "X" % de chance de ser "menino" / "menina". Agora, se a informação é sólida - meninos tem pênis e meninas tem vagina (no caso do ultrassom: Vulva) - e isso tende a ser absoluto nessa fase, eu me perguntava: como é que os profissionais conseguiam quantificar o "achismo" deles... 

Como sempre tive dificuldade em fazer contas, acabei simplificando: apenas fornecerei a informação quando tiver certeza! O resultado tem sido fantástico: ao longo de 18 anos de consultório e 23 anos de prática em ultrassom tive apenas dois casos de erro de sexo fetal, e ambos produziram muito aprendizado! Sinceramente, quem nunca errou é porque nunca praticou: apenas os teóricos, esses sim: nunca erram...
 - Aprendizado número 1 - bolsa escrotal dobrada entre as pernas simula o aspecto de vulva: nunca mais falei o sexo das meninas com a perna fechada, ou ao menos sem conseguir visibilizar a imagem dos pequenos lábios! 
 - Aprendizado número 2 - o clítoris em idade gestacional precoce pode ser volumoso e simular um pênis!

Conquanto hoje em dia seja difícil acontecer o erro de determinação do sexo fetal em fase mais avançada (acima de 16 a 17 semanas) devido a ótima qualidade dos aparelhos utilizados, o mesmo não pode dizer-se da idade gestacional precoce: entre 12 a 14 semanas. Justamente pela qualidade dos equipamentos ser muito boa, temos a "tentação" de revelar a informação cada vez mais precocemente. Mas será que essa genitália externa está suficiente madura para fornecer uma informação válida???



Com podemos observar acima, temos a formação da genitália primordial, que inicialmente é indiferenciada, e apenas pela ação da testosterona fetal produzida nos fetos do sexo masculino é que teremos a diferenciação da genitália masculina (observada acima a esquerda - imagem A), do contrário, teremos a formação sexual feminina por ausência desse estímulo (imagem B). 

Agora imaginem isso visto ao ultrassom! Em algumas fases é simplesmente impossível de se determinar com exatidão. 

Na minha experiência pessoal, consigo determinar a maturação ao ultrassom, entre 14 e 16 semanas de idade gestacional, em média. Embora já tenha acertado com 13 semanas, essa informação não foi isenta de riscos...  assim retorno para minha posição anterior: Revelar apenas com certeza: estabeleci como limite mínima a idade de 15 semanas - pouco antes da metade do terceiro mês. 

Adotar essa posição trouxe muito mais tranquilidade para minha prática profissional e mais segurança aos pais! Sei que outros colegas tem tentado informar o sexo observando o ângulo do tubérculo genital em relação a coluna fetal. Mesmo em trabalhos controlados em centros de referência a taxa de acerto no início do terceiro mês foi de cerca de 84%.

Referência - http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v23n4/11366.pdf

Ora, se a informação não pode ser fornecida com confiabilidade total, de que nos serve? Ao especular-se sobre o sexo fetal, a família por mais que saiba da possibilidade de erro, já idealiza, faz planos e sonhos em sua mente, o que certamente será fonte de frustração futura caso ocorra o erro. Isso sem contar na possibilidade de prejuízo financeiro.

Para os papais apressadinhos ou ansiosos, felizmente já contamos com a possibilidade de determinação da sexagem fetal no sangue materno ... 

Um comentário :

  1. Ótimo! Por mais profissionais assim, que pensem nos pacientes também!!!

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